A gente se trata como trataram a gente

               Nossa forma de nos relacionar é carregada de coerências a partir e através da qualidade dos relacionamentos  que tivemos ao longo da vida.  Isso parece óbvio, mas você já parou para perceber as diferentes formas que você se relaciona com você mesma? Você tem alguma noção mais clara sobre suas tendências no relacionar-se com você e com os outros? E quais são os entrelaces dos relacionamentos que você teve ao longo da vida que participou dessa sua forma de se relacionar hoje? O que você foi entendendo ao longo dessas interações e relações que teve ao longo da vida? Se você resgatasse uma cena da sua infância ou adolescência que ilustrasse alguma tendência sua e pudesse me contar, o que você entendeu daquela situação e como acabou carregando isso para a sua vida até hoje, o que você me contaria?  

               Eu sempre me surpreendo com como uma determinada experiência (autocobrança excessiva, inseguranças, etc.) se liga a experiências muito particulares da história de cada um. E que muitas vezes as pessoas chegam na terapia querendo “resolver” essa questão, de modo que elas não precisem mais lidar com isso. Como se quisessem que isso que chamam de problema desaparecesse completamente de suas vidas. Mas será que isso seria possível? E quais seriam os efeitos disso? 

               Porque se a gente for pensar, esse pedido basicamente se refere a apagar partes de nós mesmas. Como se a gente pudesse apagar as experiências que tivemos ao longo da vida e que deram corpo para as experiências que (re)vivemos hoje. Cada experiência dessas compõem um pedacinho da jornada que no fez ser quem nós somos. Vocês conseguem imaginar uma vida e uma pessoa que em sua história só teve momentos felizes? Apenas a parte cor-de-rosa da vida? Quem você seria se apagasse boa parte da sua vida e vivências? 

               Eu gosto muito de uma metáfora que me ajuda a dar corpo para essa ideia. As metáforas são muito úteis para dar bordas às experiências psicológicas. Pois, diferente de uma dor no músculo que podemos intervir localmente, uma dor psíquica a gente faz como? Pega onde? 

               Aspectos psicológicos e experiências humanas não são facilmente resolvidos com um remédio ou uma intervenção local. Algumas experiências levaram uma vida inteira para se tornarem o que são hoje, portanto, exigem que a gente vivencie um processo para serem devidamente cuidadas. E veja, eu escolhi a palavra cuidadas, e não resolvidas. Como disse Kierkegaard, eu entendo que “a vida não é um problema a ser resolvido, e sim uma realidade a ser experimentada”. (Soren Kierkegaard – O conceito de angústia).

Metáfora – Ônibus das experiências

               Então, para experimentarmos dar bordas a essas ideias, imagine que você estivesse na jornada da sua vida, tomando o seu rumo em uma longa estrada. E que você estivesse dirigindo um grande ônibus, que vai fazendo várias paradas. A cada parada, entram alguns passageiros. É como se cada parada fosse uma experiência que você viveu. 

               Alguns desses passageiros que embarcam no ônibus são experiências felizes, como uma velhinha simpática e acolhedora que dá bom dia, entrega um chocolatinho e senta ali na frente para ficar papeando sobre a vida em uma conversa gostosa e nostálgica. Trazem sensações boas, pensamentos e sentimentos felizes. Outros passageiros são experiências dolorosas, assustadoras, maldosas, como um bêbado violento que sobe no ônibus e começa a te ofender e te ameaçar. O que você costuma fazer nessas situações?

               É claro que a gente não quer ter esses pensamentos, nem sentir o que eles nos fazem sentir. E por isso, às vezes a gente passa a travar uma batalha dentro de nós mesmos para tentar expulsar esses passageiros e pensamentos de nós. E que isso pode acabar nos paralisando, nos deixando muito ansiosos ou pode nos fazer tomar ações e atitudes nem sempre úteis. Mas nessa batalha, a gente sempre perde. Porque é a gente contra a gente mesma. Já parou para pensar nisso? E perceber que tipo de relação você costuma ter com você mesma?

Fez sentido para você? Eai, você conhece essa galera toda que carrega nesse busão de uma vida inteira? 

               Para começarmos, observe o que sua mente faz quando essas ideias chegam até você. Tenta julgar, resolver, questionar… o que começa a acontecer aí dentro? Me conta por mensagem que eu vou adorar saber mais sobre!

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