Como escolher uma boa terapeuta?

O que seria importante eu saber para escolher uma boa terapeuta? 

          Sempre recebo perguntas envolvendo a escolha de terapeuta, reflexões sobre a relação com a terapeuta atual e se a linha de abordagem importa nessa escolha, por exemplo.

          Para conversar sobre essas perguntas, eu gosto de me amparar por um campo de estudo envolvendo fatores comuns na terapia. Essas pesquisas fazem parte de um movimento no campo da psicoterapia iniciado na década de 1930, do qual as crescentes influências da pós-modernidade a partir da década de 1980 foram dando mais corpo para esses estudos. 

          Os fatores comuns na terapia são definidos como variáveis que contribuem para a mudança terapêutica e não estão relacionados a uma abordagem específica ou a um modelo teórico. Esta proposta enfatiza que existem fatores e mecanismos de transformação comuns a diferentes modalidades terapêuticas, que são eficazes. 

          

          São vários fatores estudados que precisaríamos aprofundar em cada um deles para compreender suas coerências. Mas o fator que eu gostaria de focar aqui e que as pesquisas demonstram ter uma influência muito significativa envolve: A relação terapêutica, incluindo aspectos de quem a terapeuta é. Pois o processo terapêutico é,  antes de qualquer outra coisa,  uma relação humana. 

         Retomo o argumento: Nós somos, dentre tantas coisas, também resultado das nossas experiências marcadas por relacionamentos. Toda demanda que surge num processo terapêutico envolve contextos – atravessado por experiências transformadoras,  incluindo as traumáticas, povoada por diversas pessoas envolvidas. 

          Por isso,  o que acontece na RELAÇÃO TERAPÊUTICA  é muito importante. Pode ser que aquela seja a primeira relação que a pessoa teve na vida em que sentiu um acolhimento genuíno e potente ao ponto de voltar a acreditar em si mesma, por exemplo. Ou que foi a primeira vez que foi vista de uma maneira tão bonita e especial pelos olhos de alguém, que passou a conseguir também se ver dessa forma. Ou que passou a ver as situações e a vida de uma maneira diferente, nova, mudando sua forma de ser, estar e transitar pelo mundo… Ou que foi a primeira vez que falou em voz alta e para alguém sobre algo tão importante, podendo a partir disso delinear essa questão para começar a cuidar e trabalhá-las. Ou que seja a primeira vez que conseguiu deixar de se focar tanto nos outros e passou a olhar para si, se colocando em um lugar de importância e cuidado… Ou que passou a exercitar se expressar pela fala de uma maneira mais refinada criando experiências significativas, de modo que possa compreender quais são as coisas que precisa cuidar.

          E nesse desenrolar do processo, o próprio “jeitão” da terapeuta ser influenciará significativamente a forma como ela se relacionará com essas pessoas e a forma como utilizará esses modelos teóricos e técnicas, o que fará uma enorme diferença nos efeitos que cada movimento produzirá na relação terapêutica e no processo.

          Tendo em mente que aquela relação terapêutica e profissional é também uma relação humana, podemos nos amparar dos mesmos recursos que utilizamos para nos relacionar com outras pessoas. Principalmente atento a como a gente se sente naquela relação e o que cada movimento produz em nós. Não perdendo de vista a oportunidade de falar sobre isso com a sua terapeuta. Estamos sempre atentas às perguntas: O que precisamos viver aqui? O que precisamos para viver isso?

É na relação que a coisa acontece. 

          Se uma pessoa tem a tendência de se sentir julgada, por exemplo, é comum isso também aparecer na relação terapêutica. A diferença entre isso acontecer na vida e ali, é que o espaço terapêutico se propõe a ser um lugar seguro para trabalhar essas questões com uma profissional capacitada em compreender os atravessamentos que vão emergindo na interação e sustentar essas tensões relacionais, que irá conduzir o processo para que essas questões possam ser trabalhadas. 

          A aposta é que, a partir do momento em que conseguimos trabalhar essas questões naquela relação terapêutica, a pessoa possa transpor isso para outras relações em sua vida. Mas de novo, não é qualquer terapeuta e qualquer relação que vai encaixar contigo. Assim como as diversas relações que vamos tendo ao longo de nossas vidas, dentre as amorosas, amizades, familiares… encontraremos pessoas que vão encaixar com a gente e outras não. 

          E isso, não há nenhum argumento que possa definir qual modelo teórico é melhor que outro, pois o modelo teórico é apenas um dos instrumentos que a terapeuta utilizará para VIVER A EXPERIÊNCIA E ACONTECER COM O OUTRO no processo terapêutico.

Se propor a fazer a travessia que cada um sente estar precisando vivenciar, exigirá uma posição de abertura ao caos e à impermanência inerente aos encontros humanos.

Então gente bonita, não desistam de encontrar uma boa parceira para te acompanhar nessa aventura preciosa que é a sua vida. Conversem com suas terapeutas sobre o que vocês estão vivendo juntas e invistam nessa relação, pq é isso que vai fazer toda diferença no seu processo. :)) 

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