Compreender a terapia como construção social em oposição à visão tradicional da terapia como “corrigindo” aspectos anormais de uma pessoa, reconhece que existem múltiplas formas de caracterizar, compreender e vivenciarmos nossas vidas e as atividades nas quais nos envolvemos. E cada forma carrega coerências próprias, sustentadas por certas tradições e comunidades que criam diferentes efeitos em nossas vidas e possibilidades de ação no mundo.
Esse é um dos argumentos do construcionismo social: O que consideramos realidade é criado pelas representações linguísticas e mentais das pessoas desenvolvidas ao longo do tempo. A maneira como as pessoas interagem molda a visão da realidade que adotamos. Quando descrevemos o que são as pessoas, as coisas, o mundo ou definimos algo como uma coisa e não outra, estamos ativamente participando do que aquilo pode se tornar.
Ao questionarmos nossa própria visão de mundo, entendendo algo como apenas mais uma forma de construção possível em vez de “a verdade sobre as coisas”, somos convidados a reconhecer essa vasta gama de possibilidades alternativas às nossas de compreensão. Como construcionistas, temos uma curiosidade incessante pela diversidade de crenças e modos de vida possíveis da existência e como elas interagem entre si.
Na terapia, ao compreendermos que qualquer teoria é um processo de construção social, não estamos mais presos em debates sobre uma abordagem terapêutica ou outra. Elas não são verdadeiras ou falsas, melhores ou piores, mas podem ser úteis em um determinado contexto para uma determinada pessoa e processo. A partir dessa compreensão, adotamos uma postura não colonizadora nos processos humanos, participando de uma maneira em que cada pessoa possa ter autonomia e protagonismo em sua vida. Em um processo de co-construção consideramos, por exemplo, nossa contribuição como especialistas do processo, de temas envolvendo a terapia, psicologia, etc., sem deixar de valorizar que a pessoa é especialista de si, de sua própria vida e de outros temas que talvez nos sejam desconhecidos, mas que podem participar do processo como um recurso discursivo à serviço de algum argumento clínico.
Esses são alguns argumentos que sustentam nossa prática clínica, e que vão participando na maneira como nos colocamos na relação terapêutica e conduzimos o processo. Fez sentido para você?